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Melhores leituras de 2023

  • vanessataiszimmer0
  • 19 de dez. de 2023
  • 11 min de leitura

Nesse ano eu passei a anotar quais livros li e atribuir notas a eles como um hábito de registro. Considero as melhores leituras aquelas que mais me conectei, que trouxeram reflexões e foram boas companhias de introspecção. Vou citar na ordem de leitura porque não vejo como ordenar em qualidade ou apreço maior. O decorrer do texto será com o resumo oficial do livro e depois minhas impressões. Vamos lá?

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A menina da montanha. Tara Westover.

Lido em fevereiro

 

Resumo: Eleito o livro do ano (2018) pela Amazon. Escolhido como um dos livros do ano pelo Bill Gates e indicado pelo ex-presidente americano Barack Obama, além de figurar entre a lista dos mais vendidos do NYT Tara Westover tinha 17 anos quando pisou pela primeira vez em uma sala de aula. Nascida nas montanhas de Idaho, Estados Unidos, era a caçula de sete irmãos. Guiados pelo fanatismo do pai, todos estavam sempre se preparando para o fim do mundo, estocando conservas e dormindo com uma mala pronta para o caso de fuga. No verão, ajudava a mãe, parteira e curandeira, a fazer remédios medicinais. No inverno, coletava sucata com o pai. Além do sistema de ensino, seu pai também desconfiava dos hospitais, por isso Tara jamais viu um médico durante a infância. Cortes, machucados e até mesmo graves queimaduras eram todos tratados em casa. A família estava tão isolada da sociedade que não havia ninguém para garantir que as crianças recebessem educação, nem para intervir nos casos de violência. No entanto, quando um de seus irmãos conseguiu entrar para a faculdade e retornou com notícias do mundo além da montanha, Tara resolveu tentar um novo tipo de vida. Aprendeu matemática, gramática e ciências para prestar o vestibular, e foi admitida na Universidade Brigham Young. Sua busca pelo conhecimento a transformou, fazendo-a atravessar oceanos e continentes, até chegar às universidades de Harvard e Cambridge, na Inglaterra. Foi quando se deu conta de quão longe tinha viajado, e se perguntou se ainda existiria um caminho de volta para casa. A menina da montanha é um relato autobiográfico sobre a busca de uma nova identidade. É um conto sobre lealdade familiar e sobre o luto de romper estes laços. Com a intensa sensibilidade que distingue os grandes escritores, Tara Westover nos oferece uma história universal que resume o sentido da palavra educação: a perspectiva de ver a vida com novos olhos, e a vontade de mudar.

 

Minhas impressões: é até difícil acreditar que se trata de uma história real porque a personagem passa por dificuldades que eu gostaria que não existissem mais. Sua força feminina transborda desde menina, é algo instrinseco à natureza dela. Envolvente e surpreendente, é incrível a capacidade de elaboração de Tara ao nomear e conseguir escrever sobre suas vivências desde a infância até a vida adulta. O que mais me marcou foi a persistência em buscar o seu lugar de diferenciação da família e o valor que o estudo teve na sua história.

 

 

Agua fresca para as flores- Valerie Perrin

Lido em fevereiro

 

Resumo: Um dos maiores fenômenos editoriais da Europa dos últimos anos, Água fresca para as flores traz uma sensível história de amor no peculiar cenário de um cemitério

Os dias de Violette Toussaint são marcados por confidências. Para aqueles que vão prestar homenagens aos entes queridos, a casa da zeladora do cemitério funciona também como um abrigo diante da perda, um lugar em que memórias, risadas e lágrimas se misturam a xícaras de café ou taças de vinho. Com a pequena equipe de coveiros e o padre da região, Violette forma uma família peculiar. Mas como ela chegou a esse mundo onde o trágico e o excêntrico se combinam?

Com quase cinquenta anos, a zeladora coleciona fantasmas ― uma infância conturbada, um marido desaparecido e feridas ainda mais profundas ―, mas encontra conforto entre os rituais e as flores de seu cemitério. Sua rotina é interrompida, no entanto, pela chegada de Julien Seul, um homem que insiste em deixar as cinzas da mãe no túmulo de um completo desconhecido. Logo fica claro que essa atitude estranha está ligada ao passado difícil de Violette, e esse encontro promete desenterrar sentimentos há muito esquecidos.

À medida que os laços entre os vivos e os mortos são expostos, acompanhamos a história dessa mulher que acredita de forma obstinada na felicidade, mesmo após tantas provações. Com sua comovente e poética ode ao cotidiano, Água fresca para as flores é um relato íntimo e atemporal sobre a capacidade de redenção do amor.

 

 

Minhas impressões: É de uma é de uma sensibilidade gigante. As histórias, as personagens, são como somos: complexos, simples e sem um lado só. Fala sobre amor, sobre luto, reconstrução e o valor da vida. Sem dúvida um dos melhores livros que já li. Assim que finalizei fui correndo procurar se tinha outros da autora (na época era o único traduzido para português. No final de 2023 houve um lançamento novo).  Me emocionei do início ao fim, chorei em diversas passagens. Minha maior lição foi trazer para a vida um olhar poético mesmo e apesar daquilo que consideramos difícil. Sempre vale a pena insistir no valor da vida.

 

                Copo Vazio- Natalia Timerman

Lido em maio

 

Resumo: Mulheres abandonadas. Desde sempre, a literatura é permeada de histórias trágicas de figuras fascinantes, como Medeia e Dido, que se desfazem diante do abandono masculino. Emma Bovary e Anna Kariênina, personagens inesquecíveis, também sucumbem. A mesma Simone de Beauvoir de O segundo sexo escreveu A mulher desiludida, antologia de contos sobre personagens despedaçadas, uma delas por essa mesma via. No século xxi, Elena Ferrante atualiza a tradição, criando personagens que definham ou enlouquecem depois de dispensadas ― é o caso de Olga, em Dias de abandono, que se vê confrontada com novas questões: Como pode uma mulher padecer "de amor" nos anos 2000? A própria ideia de abandono já não soa anacrônica em nossos dias? Agora é a vez de Natalia Timerman e seu Copo vazio. O romance conta a história de Mirela, uma mulher inteligente e bem-sucedida, que acaba submergida em afetos perturbadores quando se apaixona por Pedro. O livro perscruta a vulnerabilidade de sua protagonista sem constrangimentos. Há algo de ancestral, talvez atemporal, no sofrimento de Mirela, que ecoa a dor de todas essas mulheres. Mas há também elementos contemporâneos: a forma de vida nas grandes cidades e as redes sociais são questões que acentuam os dilemas. Mirela tem emprego, apartamento, família e amigos, porém parece ser bastante solitária. Quando conhece Pedro, ela se preenche de energia e entusiasmo, e fica obcecada não só por ele, mas por essa versão de si mesma. O que fazer quando ele desaparece de repente, sem explicações? Depois de publicar contos, poemas e ensaios, Natalia Timerman comprova a versatilidade de sua escrita num mergulho de fôlego no mundo psíquico de sua protagonista.

 

Minhas impressões: a personagem Mirela vive uma obsessão a partir do abandono de Pedro.  Sonha, idealiza e mantém na sua vida alguém que já foi. Uma história comum a tantas mulheres: a dificuldade de se enxergar completa sem aquele no qual foi projetado uma completude, um valor. Perpassando pelo tema da rejeição, do ideal romântico, da busca da completude no relacionamento romântico a autora me deixou com vontade de dizer: “para de se humilhar, amiga”. Acho que de certa forma me angustiou porque também me vi nessa situação algumas vezes em momentos de imaturidade no passado. A identificação feminina revela o quanto é presente e comum essa atitude.

 A autora é brasileira. Maravilhosa. Não sei como cheguei a esse livro acho que foi pela capa.

 

 

Véspera – Carla Madeira

Lido em agosto.

 

Resumo: Carla Madeira cria personagens que parecem estar vivos diante de nós. As emoções que sentem são palpáveis e suas reações, autênticas. Temos a sensação de conhecê-los de perto, inclusive as contradições e os pontos cegos. Tal virtude é evidente em seu livro de estreia e grande sucesso, Tudo é rio (2014), mas também no livro seguinte, A natureza da mordida (2018).

Os personagens de Véspera, este seu novo romance, possuem a mesma incrível força vital. Mas se em Tudo é rio Carla os criou com poucas pinceladas e traços incisivos, aqui, para delinear suas personalidades, ela opta por uma superposição de camadas psicológicas. Se antes eles primavam por temperamentos drásticos ― capazes de extremos de paixão, ciúme, ódio e perdão ―, aqui a estratégia gradativa de composição confere-lhes uma dose maior de mistério, sugerindo ao leitor antecipações que só aos poucos se confirmam, ou não. A força emocional continua existindo, porém está menos visível, o que deixa a atmosfera ainda mais carregada de suspense e tensão.

A narrativa começa com a pergunta: como se chega ao extremo? Vedina, uma mulher destroçada por um casamento marcado pelo desamor, em um momento de descontrole abandona seu filho e, imediatamente arrependida, volta para o lugar onde o deixou e não encontra quaisquer vestígios de sua presença. Este é o acontecimento nuclear da trama que expõe as entranhas de uma família – pai alcóolatra, mãe controladora, irmãos gêmeos tensionados pelas diferenças – que, como tantas outras famílias, torna-se um lugar onde as singularidades de cada um não são acolhidas, criando rachaduras por onde a violência se infiltra.

Contada em dois tempos, o dia do abandono e os dias que vieram antes dele, o romance avança como duas ondas até que elas se chocam e se iluminam. O leitor se vê diante de um espantoso presente que expõe o quanto as palavras são capazes de inventar a verdade.

“O tempo flutua invisível e em espesso presente. Nada apodrece sem ele. Nada floresce. Nada se torna amável. Nenhum ódio viceja. Nenhuma umidade seca. Nenhuma sede cede. As tempestades não inquietam nele ventos, as avalanches não podem soterrá-lo, a perplexidade não o paralisa, o mal não o ameaça e o bem não faz com que se demore. Mas eis que um acontecimento, um único acontecimento, captura o tempo e o aprisiona."

 

 

Minhas impressões: Bem como diz o título, véspera fala sobre as histórias das histórias. Aquilo que constrói e vem antes, como é o desenrolar dos eventos e acontecimentos. Eu gosto demais dessa construção que “explica” como as coisas aconteceram, o que levou as pessoas a tomarem tais decisões, de onde elas vieram e como estavam se sentindo. É genial. Me levou a pensar em caminhos e escolhas da vida, como são construídos a partir de pequenos importantíssimas encruzilhadas e ao mesmo tempo que temos pouco controle de inúmeras variáveis.

 

            Dias de se fazer silêncio – Camila Maccari

Lido em agosto

 

Resumo: “Camila Maccari: eis uma autora excepcional, que detém por completo o domínio da história e sabe como contá-la, usando uma linguagem dotada de conotação nos momentos certos e de forte realismo quando necessário. Digo com a segurança de quem muito leu e muito ensinou: Dias de se fazer silêncio ficará como um marco na atual literatura brasileira por razão de sua força dramática e por sua intensa e inesquecível literatura. ”Luiz Antonio de Assis BrasilMaria é apenas uma criança e enfrenta um turbilhão de sentimentos. Terá de lidar não só com o silêncio compulsório dentro de casa, mas com a doença do irmão mais novo, a ausência dos pais e as culpas de pensar e desejar o que deseja. Em Dias de se fazer silêncio, Camila Maccari nos presenteia com uma história a um só tempo intensa e delicada sobre vida, infância, amor, morte, luto, fraternidade, fragilidade, força e pequenas insurgências, escrita em uma linguagem tão poética quanto direta. Nesta narrativa breve, que se passa longe dos ares e dos costumes da cidade grande, convivemos com uma família e sua vizinhança no interior do país, além da figura meio mítica da parteira com seus anéis. Estão em cena primos, irmãos, faltas e excessos, sob os olhos de pais e mães que precisam lidar com o fim inaceitável de Rui. Saímos deste livro capazes de uma enorme identificação e aprendemos que até a tristeza profunda precisa passar.

 

Minhas impressões: Não sei como cheguei a esse livro. Logo vi que a autora é gaúcha, aqui do interior de Sarandi. Delícia de descoberta.

Ler uma história sobre a perspectiva de uma criança, é voltar o olhar para aquele que já fomos. Camila escreve sobre Mari, menina sensível e intuitiva, e sua família que vive a perda de um filho. Livro belíssimo narrado com a simplicidade da vida do interior, a infância no campo a vivência das rodas de chimarrão das mulheres

O tema do luto é presente ocupando espaços e vazios. Desde a descoberta de um diagnóstico e o não dizer. O que mais me chamou atenção ao decorrer da história é o quanto faz falta nomear o que se passa na vida para as crianças. Quantas vezes deixamos de lado os pequenos por pensar estarmos “poupando” ou então que “não tem como entender” mas na realidade estamos deixando angustia tomar espaço que poderia ser de verdade e suporte emocional. Essas vivências são comuns na clínica. Quanto mais antiga a geração, menos era oferecido de nome e explicação ao que acontecia na vida da família. Voltando ao livro, Maria, com esse nome tão simbólico, demonstra na perspicácia da infância que sim, crianças sabem o que acontecem e dão seu jeito de lidar.  Muitíssimo orgulho da escrita de uma mulher gaúcha.

 

 

            Inverno da alma- Katherine May.

Lido em novembro


Resumo: O poder do descanso e da autopreservação em momentos difíceis

 

O inverno é uma época de recolhimento do mundo, de maximização de recursos escassos, de realização de atos de eficiência brutal e do desaparecimento; mas é aí que ocorre a transformação. Depois de aquecer os corações e as mentes das bruxas e bruxos que acompanham a Magicae com livros como Ano MágicoBruxa Solitária e Bíblia Clássica do Tarot, chegou a hora de olhar para dentro de si. Inverno da Alma, livro de Katherine May, é um hino a uma estação muito difamada e um tributo à extraordinária capacidade dos humanos de aprender e crescer.

 

Em Inverno da Alma, a autora utiliza o conceito metafórico da hibernação durante os períodos difíceis da vida ― “invernando”, como as plantas e animais fazem durante esta estação para se proteger e se regenerar ― para explorar os momentos de dificuldade, tristeza, perda ou mudança que todos nós enfrentamos ao longo da vida. No livro, May compartilha suas próprias experiências de inverno emocional, desde o luto até o isolamento social, para atingir o amadurecimento e a autodescoberta. May também mergulha na história e nas tradições culturais relacionadas ao inverno, explorando a sabedoria ancestral que reconhece a importância de honrar esses períodos de quietude e reflexão ― o inverno não é a morte do ciclo da vida, mas sua provação.

 

Inverno da Alma é um livro que oferece perspectivas e conselhos para aqueles que estão passando por momentos difíceis ou que desejam cultivar uma mentalidade de autocuidado e autorreflexão. Com uma visão acolhedora e uma escrita íntima ao leitor, Inverno da Alma é uma obra potente para todas as idades, e traz novas perspectivas para aqueles que estão em busca de uma conexão maior com a natureza ― e, principalmente, consigo mesmos.

Inverno da Alma é tão belo e curativo quanto a própria estação [...] Um livro lindíssimo.” ― Elizabeth Gilbert, autora de Comer, Rezar e Amar

“[Este livro] nos faz o favor de lembrar que não estamos sozinhos ao nos sentirmos um pouco perdidos.” ― The Wall Street Journal

Inverno da Alma nos encoraja a aceitar nossas imperfeições e confiar no mundo, com seus ciclos de hibernação e regeneração.” ― The New York Times

“Uma reflexão bela e gentil sobre a estação mais sombria da natureza, e da luz da primavera que depois se segue.” ― Raynor Winn, autora best-seller de The Salt Path

 

 

Minhas impressões: primeiramente cabe a colocação que a autora esrece sobre o inverno no hemisfério norte, então os meses são contrários às nossas estações e também costumes destoam. Apesar disso, curiosamente não dificulta a conexão. Através de metáforas simples e belas reflexões, Katherine faz esse convite a permitir a presença dos dias e períodos desafiadores de nossa vida como parte fundamental. Contando sua própria história, misturando contos e dados, faz uma belíssima construção da importância da introspecção, da analise da vida e das metamorfoses desses períodos. Claro que como psicóloga eu amei demais. Nossa cultura ainda dá ênfase muito maior às glorias e vitórias da existência, Esse contraponto de enxergar a potencia de toda parte da vida como natural e necessária, inclusive desses momentos nebulosos e escuros, é muito bem colocado no livro.

 

 

Para finalizar: Sinto que cada leitura impacta de alguma maneira muito especifica de acordo com o momento pessoal em que é realizada. Há trechos dos livros que são amados e outros passados batido conforme o que se espera dele, conforme o que se esta sentindo naquela fase. Portanto, considere sempre qual tipo de leitura você tem disponibilidade emocional no período em que está. Se quiser trocar ideais sobre essas ou outras leituras, fico sempre à disposição no instagram. Um beijo!

 
 
 

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